terça-feira, 6 de setembro de 2016

A verdadeira cura para a depressão

20:00


Um dia acordei, abri a janela, como faço sempre, e não esbocei aquele sorriso tão meu, tão frequente. Lembro-me de pensar nisso e achar estranho. O que me estaria a acontecer, naquele dia? Pensei: isto é normalissimo, toda a gente tem dias em que não lhe apetece esboçar um sorriso. E é verdade. Concordo em absoluto. Há dias que não podemos estar felizes e, então, não há sorrisos, não há alegrias e não há, supostamente, felicidade. Esse poderia ter sido um dia assim. Mas não foi, infelizmente.
No dia seguinte acordo novamente, sem nenhum sorriso aparente. Lembro-me, até, que tive alguma dificuldade em sair da cama (o que não é normal em mim). Mas levantei-me, porque assim tinha de ser. Porque, feliz ou infelizmente tinha de ir trabalhar e tinha obrigações a cumprir. Lá fui eu, a custo mas fui. Lembro-me que as semanas seguintes andava sem motivação para nada e o acordar de manhã continuava a ser um tormento. Tormento esse que, dia após dia, se tornava cada vez maior.  Pequenos pormenores, talvez grandes tonterias; mas já nem a janela comecei a abrir sequer. Nem para isso tinha força… Seria força ou disposição? Seria disposição ou motivação? Seria… E a vida não é nem pode ser feita de “seria”.  No entanto, eu achava que podia. Eu… e todos aqueles que têm a chamada doença “depressão”.
Descobri que a tinha passado um ano de estar a viver assim. Sem entusiasmo, triste, melancólico, cansado, sem apetite, com muito sono… Enfim, quase como um vegetal. Eu sabia que não estava bem. Os outros… Os outros diziam-me que tudo iria passar. Que era só uma fase menos boa da vida. Que todos temos de passar por ela. Será que temos? Hoje em dia, sei que não. Não podemos, nem temos todos de ter depressão. Não é um estado obrigatório, mas sim um estado a que chegamos e, se não tivermos a ajuda de ninguém especialista, continuamos a cair e a cair… E será que há limites para essa queda?
Para mim houve limites. O meu limite deu-se quando quis pôr termo à minha vida. Sim, a depressão pode levar ao suicídio. Foi exatamente o que me aconteceu. Como é que eu, uma pessoa perfeitamente normal e bem com a vida (há uns tempos atrás) tinha chegado àquele ponto? Como é que eu tinha querido suicidar-me?
Não sei se há culpados. Não sei se vou atribuir as culpas a alguém, ou se tenho de o fazer. Contudo, sei que eu podia ter feito algo diferente. Simplesmente não tinha forças. Não estava, também, consciente disso. Sei que alguém podia ter feito algo por mim. E é aí que quero chegar. Os outros… Porque são eles tão importantes na nossa vida? Frequentemente, ouvimos “tu precisas sempre de alguém, até do padeiro que te faça o pão”. É verdade, concordo em absoluto. Mas, quando eu mais precisei, foi quando eu só ouvi “tem calma, vai tudo correr bem, é só uma fase menos boa”. Não era isto. Não podia ter sido só isto.
Se eu tivesse uma pequena constipação, sei que teria tido muito mais atenção? Exagero? Parvoíce? Não! Pura realidade! Não digo com isto que os outros não tiveram lá para mim. Não é nada disso. Digo com isto que a sociedade incutiu aos outros (estes outros, como tantos outros) que a saúde mental vai passar. Sem ajuda, sem mais nada. Simplesmente passará. Porque, um dia iremos acordar, e todos os sentimentos, emoções e pensamentos negativos desaparecem.

Porque a saúde mental é assim… Não há urgências! Não há especialidades! Não há preocupação! Há uma frase “tudo vai ficar bem”. E até pode ficar, mas com a ajuda de profissionais competentes para tal. E aqui é fucral e retratei a minha história para conseguir chegar a esse ponto. As pessoas com depressão precisam de ajuda psicológica. Não são apenas os quimicos que tratam a depressão (e, na minha mera opinião, estão tão longe disso). A depressão pode ser tratada, tem cura e, tal como as doenças físicas (em que vamos ao médico e tomamos coisas), a depressão também vai passando. As coisas que nós tomamos são, todos os dias, pequenas poções de alegria, bem estar e felicidade, para que um dia… Um dia possamos gritar ao mundo que também nós ultrapassamos a doença! E não era um cancro, mas sim uma depressão…

Mafalda Leitão é psicóloga e escreve na revista todos os dias 7 e 21 de cada mês.

domingo, 7 de agosto de 2016

A auto-estima nas crianças

08:25

Desde muito cedo que a educação e os valores que transmitimos aos nossos filhos têm um papel fulcral no desenvolvimento da sua personalidade, identidade e… auto estima!
A auto estima é um conceito multidimensional, que engloba três componentes: o afetivo, o cognitivo e o de conduta – que estão intimamente ligados (a alteração de um implica a modificação de outros). No fundo, a auto estima, que se complexifica e diversifica à medida que a criança se vai desenvolvendo, reflete-se no que se sente, no que se pensa e idealiza e no que se faz.
Mas como é que uma criança pode ou não ter uma elevada auto estima? Como é que ela pode gostar mais dela própria? E como é que os pais podem ajudar neste contexto?
Primeiro que tudo, a forma como os pais educam a criança é fulcral, pois estes são os “modelos” que os filhos têm e onde aprendem, de acordo com o que observam, ouvem e falam. Os pais têm um papel activo, desde logo, na construção de uma auto-imagem positiva ao encorajarem o bebé a desempenhar algumas tarefas sozinho. E daí surge a auto confiança. A criança acredita que é capaz sozinha e que, também ela, consegue fazer as coisas… E bem feitas! Mas, mais uma vez, os pais são decisivos. O encorajar, o recompensar, o elogiar e, também, o impôr limites e regras são bases necessárias para um desenvolvimento desta auto confiança e, simultaneamente, de uma elevada auto estima. Mas também é fulcral que se fale dos erros. Que todos nós erramos e que isso é totalmente aceitável e uma nova descoberta de nós próprios. A criança não verá, então, o erro como uma limitação, mas sim como uma forma de persistência, em que os insucessos se transformam em novas oportunidades e aprendizagens.
Além de tudo isto, uma estabilidade familiar é essencial. Uma boa relação familiar transmitirá uma segurança emocional fundamental ao desenvolvimento da criança. O estilo educativo que os pais adotam também interfere (e muito) – nem muito autoritarismo, nem uma excessiva liberdade.
Quando a criança começa a crescer, depara-se com uma série de questões interiores, nomeadamente “Quem sou eu?”; “Como é que eu sou?”; “Qual é a importância das coisas para mim?”. E é aqui que o desenvolvimento de uma autoestima positiva ganha particular importância, ao constituir-se como dimensão básica para a plena realização da criança, com estreita ligação com um sentido de segurança, de identidade, de pertença, de objetivos e de competência. A criança com autoestima positiva age com independência e enfrenta novos desafios com entusiasmo e confiança. E a auto estima positiva é fundamental para uma vida saudável. Sim, a auto estima consegue interferir com toda a vida de uma criança; estando a baixa auto estima associada à depressão e ansiedade.
E, como pais, o que deve fazer para que a criança tenha uma elevada auto estima?
1) Demonstre interesse pelas atividades do seu filho – seja na escola, em casa, nas brincadeiras, etc. Isso vai demonstrar ao seu filho que tem interesse pelas suas coisas, transmitindo-lhe confiança e segurança;
2) Seja tolerante, compreensivo e fale! Fale muito com o seu filho. Perceba as suas emoções – alegrias, medos, tristezas,… E ajude-o a ultrapassar isso!;
3) Demonstre sempre ao seu filho que confia nele e que acredita nas suas capacidades . Por vezes, alguns pais desencorajam os filhos, com comentários mais negativistas (e muitas vezes nem o fazem de forma propositada). Esteja atento, elogie e ofereça apoio ao seu filho, quando ele necessitar;
4) Valorize positivamente caraterísticas individuais do seu filho, que sejam menos comuns e que o possam estar a afetar (de alguma forma);
5) Elogie e recompense o seu filho pelos seus êxitos e esforços;
6) Não faça comparações entre o seu filho e outras crianças – cada um é como é e temos de aceitar todas as individualidades específicas e aprender com elas;
7) Perante alguma situação menos boa nunca critique a criança, mas sim a situação – por exemplo: a criança não consegue fazer o puzzle até ao fim. Nunca diga “tu não consegues fazer puzzles” ou “tu não és bom nos puzzles”. Diga antes: “este puzzle é mais difícil que os outros, porque é para os meninos mais crescidos; mas mesmo assim tu conseguiste um bocadinho!”.

8) Imponha regras e limites: é fundamental que a criança tenha regras e limites no seu dia a dia. Ela tem de perceber que não pode fazer tudo o que quer e que poderá ouvir a qualquer momento um “não” (quando assim tiver que ser). Dizer que “não” à criança, não é ser mau pai ou má mãe; muito pelo contrário.

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